
A vida é cheia de idas e vindas. Algumas coisas que acontecem, remetem a gente pra um passado que considerávamos esquecido. Estou cursando uma pós-graduação em direito. Esse já é o segundo ano do curso, voltamos às aulas na semana passada. São duas vezes por semana, no centro da cidade. O curso é legal, a turma é boa, interessante.
Ontem, na hora do intervalo, saí com alguns colegas para comer. Estávamos procurando um botequim perto da faculdade, quando encontramos um “pé sujo”, na verdade, um “pé imundo” com karaokê. A cena era grotesca. Um bar horroroso na rua Buenos Aires, completamente vazio, com um sujeito também horroroso cantando uma música do Roberto Carlos. Meu primeiro impulso foi tomar o microfone da mão dele e dizer que ele não tinha o direito de fazer aquilo com a música do rei. Desisti. Na verdade rimos muito com a cena e combinamos ir lá na próxima quarta, com um grupo maior, e cantar. Mas eu falei tudo isso, porque essa cena me lembrou outra passagem numa época já remota.
Há uns doze anos atrás, eu trabalhava numa firma de auditoria. Eu tinha vinte e dois anos, acho que ainda era solteira, com certeza era solteira. Tinha clientes espalhados nos quatro cantos do Rio de Janeiro. Não exatamente nos quatro cantos, nos cantos bons eu não tinha. Tinha clientes na Pavuna, Irajá, "uhú" Nova Iguaçu, Bonsucesso, São Gonçalo. Eu fui a inspiração pra essa música "subúrbio" do Chico Buarque. O cliente que eu tinha na Pavuna, tinha uma filial em "uhú" Nova Iguaçu, e ninguém queria ir visitar essa filial. Como ninguém queria ir, mandaram a Renata. Nessa época o Rio não era tão violento, ou eu não tinha tanto medo da violência. Saí da fábrica da Pavuna no carro do cliente e fomos em direção à outra fábrica. Chegamos lá, comecei o meu trabalho, e como nunca a auditoria tinha aparecido por lá, fui tratada como celebridade. Na hora do almoço, o pessoal resolveu me agradar e me convidaram para comer a melhor carne seca desfiada do Brasil. Eu até gosto de carne seca, mas preferia ficar ali trabalhando e voltar pra casa mais cedo. Não tive como recusar, todos eram muito gentis. Fomos. Andamos de carro mais de meia hora dentro de "uhú" Nova Iguaçu. Chagamos num bar quase vazio, com chão de terra e aquelas mesas de ferro. Nada em volta. Lugar absolutamente deserto. Só mato. No bar tinham uns seis sujeitos muito mal encarados escolhendo músicas numa “junk box”. Fiquei com medo daquelas pessoas.
Sentamos. Eu e meu sorriso amarelo. O pessoal da empresa muito feliz com a minha presença. Eu tentando parecer feliz com a minha presença. Quando eu já estava quase me acostumando com o lugar e com os rapazes da "junk box", passa um carro da polícia civil. Pronto. Agora vai ter troca de tiros. Onde me escondo? Debaixo dessas mesas? Atrás da "junk box"? O carro da polícia civil parou. Os policiais saltaram. Iam almoçar. Quatro policiais. Dois deles foram dar uma olhada no lugar, acho que pra ver se tinha alguma emboscada. Comecei a rezar. Os outros dois entraram no bar. Quando se certificaram que a área estava limpa, eles começaram a se desarmar. Colocavam as armas na mesa de ferro. Nunca vi tanta arma junta. Acho que vi cinco granadas. Acho que vi um canhão daqueles que tem em navio de pirata. Não posso confirmar, estava com muito medo. Não consegui provar a melhor carne seca do Brasil, nada passava pela minha garganta. Suava por todos os poros do meu corpo. Esperava o início da chacina a qualquer momento. Ficou difícil disfarçar o meu imenso desconforto. O gerente da fábrica que nos acompanhava perguntou se eu queria ir embora. Não podia fazer isso com aquelas pessoas. Ninguém parecia muito preocupado. Decidi ficar. Voltei são e salva, mas sem provar a carne seca.
Ontem, na hora do intervalo, saí com alguns colegas para comer. Estávamos procurando um botequim perto da faculdade, quando encontramos um “pé sujo”, na verdade, um “pé imundo” com karaokê. A cena era grotesca. Um bar horroroso na rua Buenos Aires, completamente vazio, com um sujeito também horroroso cantando uma música do Roberto Carlos. Meu primeiro impulso foi tomar o microfone da mão dele e dizer que ele não tinha o direito de fazer aquilo com a música do rei. Desisti. Na verdade rimos muito com a cena e combinamos ir lá na próxima quarta, com um grupo maior, e cantar. Mas eu falei tudo isso, porque essa cena me lembrou outra passagem numa época já remota.
Há uns doze anos atrás, eu trabalhava numa firma de auditoria. Eu tinha vinte e dois anos, acho que ainda era solteira, com certeza era solteira. Tinha clientes espalhados nos quatro cantos do Rio de Janeiro. Não exatamente nos quatro cantos, nos cantos bons eu não tinha. Tinha clientes na Pavuna, Irajá, "uhú" Nova Iguaçu, Bonsucesso, São Gonçalo. Eu fui a inspiração pra essa música "subúrbio" do Chico Buarque. O cliente que eu tinha na Pavuna, tinha uma filial em "uhú" Nova Iguaçu, e ninguém queria ir visitar essa filial. Como ninguém queria ir, mandaram a Renata. Nessa época o Rio não era tão violento, ou eu não tinha tanto medo da violência. Saí da fábrica da Pavuna no carro do cliente e fomos em direção à outra fábrica. Chegamos lá, comecei o meu trabalho, e como nunca a auditoria tinha aparecido por lá, fui tratada como celebridade. Na hora do almoço, o pessoal resolveu me agradar e me convidaram para comer a melhor carne seca desfiada do Brasil. Eu até gosto de carne seca, mas preferia ficar ali trabalhando e voltar pra casa mais cedo. Não tive como recusar, todos eram muito gentis. Fomos. Andamos de carro mais de meia hora dentro de "uhú" Nova Iguaçu. Chagamos num bar quase vazio, com chão de terra e aquelas mesas de ferro. Nada em volta. Lugar absolutamente deserto. Só mato. No bar tinham uns seis sujeitos muito mal encarados escolhendo músicas numa “junk box”. Fiquei com medo daquelas pessoas.
Sentamos. Eu e meu sorriso amarelo. O pessoal da empresa muito feliz com a minha presença. Eu tentando parecer feliz com a minha presença. Quando eu já estava quase me acostumando com o lugar e com os rapazes da "junk box", passa um carro da polícia civil. Pronto. Agora vai ter troca de tiros. Onde me escondo? Debaixo dessas mesas? Atrás da "junk box"? O carro da polícia civil parou. Os policiais saltaram. Iam almoçar. Quatro policiais. Dois deles foram dar uma olhada no lugar, acho que pra ver se tinha alguma emboscada. Comecei a rezar. Os outros dois entraram no bar. Quando se certificaram que a área estava limpa, eles começaram a se desarmar. Colocavam as armas na mesa de ferro. Nunca vi tanta arma junta. Acho que vi cinco granadas. Acho que vi um canhão daqueles que tem em navio de pirata. Não posso confirmar, estava com muito medo. Não consegui provar a melhor carne seca do Brasil, nada passava pela minha garganta. Suava por todos os poros do meu corpo. Esperava o início da chacina a qualquer momento. Ficou difícil disfarçar o meu imenso desconforto. O gerente da fábrica que nos acompanhava perguntou se eu queria ir embora. Não podia fazer isso com aquelas pessoas. Ninguém parecia muito preocupado. Decidi ficar. Voltei são e salva, mas sem provar a carne seca.
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