Sunday, April 29, 2007


Ontem meu Pequeno Príncipe me levou ao cinema pra assistir A Família do Futuro. O filme é ótimo, recomendado para os pequenos e grandes. Chorei umas dez vezes durante o filme, em todas elas fui prontamente consolada pelo meu pequeno. Aliás, ele tá me avisando a semana toda que não é pra chorar na festinha de dia das mães.

Friday, April 27, 2007

Depois do segredo

Aplicando O Segredo milenar que por R$39,90 mudou a minha vida e me tornou a pessoa mais positiva que eu conheço, fui tomar um choppinho amigo com duas chapinhas amigas de longa data. O choppinho foi trocado por vinho branco geladinho porque além de positivas nós somos mulheres finas. Nem tão finas depois de tomar vinho. Depois de duas garrafas a algazarra da nossa mesa lembrava uma final de campeonato no Maracanã. Dividi com minhas amigas O Segredo e nos focamos em conversas positivas, sentimentos positivos e mandamos vibrações positivas para todo o Universo. Vocês sentiram aí? Tenho certeza que sim. O alto astral da reunião me empolgou e saí do bar zuzu bem alta, tipo uns dois metros e dez. Marido de uma das chapinhas se juntou a nós no meio da noite. Marido meu e filho meu se juntaram a nós no fim da noite, provando que quem sai aos seus não degenera (será que é assim o ditado? será que é regenera? eu continuo zuzu bem alta). Pequeno Príncipe não gosta muito da boemia (vocês pensaram que ele teria saído a mim, ledo engano, ele saiu ao pai). Chegou lá com a maior cara de zangado e a ordem na ponta da língua. – Mamãe, vamos já pra casa agora. Fomos, depois que o pai dele comeu uma saladinha e tomou uma coca light.

O resumo dessa ópera é que depois de descobrir O Segredo, tomar duas garrafas de vinho e passar muito bem durante a noite (foi o contrário, mas tenho que me manter no foco positivo) decidi me dar alta do joelhaçoterapeuta. Cheguei lá cedo, agradeci muito a ele e me dei alta. Simples assim. Agora eu oficialmente pertenço ao mundo dos mentalmente sãos e vou economizar uma boa grana. Um dia muuuiiiiittttoooo positivo pra todos.

Wednesday, April 25, 2007

Conheça O Segredo - II

Nelson Rodrigues continua na estante, ainda me encontro abraçada ao Segredo. Outra coisa legal do livro é que segundo a teoria, a partir do momento que você pede, você precisa ter uma fé inabalável que o objeto de seu desejo já é seu. É como se você entrasse no Submarino e comprasse um dvd. Ele já é seu só falta te entregarem. Essa crença reduz muito a nossa ansiedade e faz com que a gente possa focar em outra coisa. Aquela questão de passear de Ferrari com o Brad Pitt já estaria resolvida, é só uma questão de tempo. Brincadeira. Só para ilustrar melhor. Outra coisa,esqueci de falar, minha mãe voltou de viagem, sã e salva, e com um inglês fluente.

Conheça O Segredo


Já tentei escrever alguma coisa sobre O Segredo, mas apaguei tudo, ficou ruim. Vou tentar de novo. O filme documentário foi lançado no Brasil há umas semanas e ontem eu entrei numa mega livraria, sem a menor pretensão de encontrar o livro, e lá estava ele. Esperando por mim. Comprei o livro e no caixa adicionei um cd perfil do Fábio Jr. que estava em promoção. Se é auto-ajuda, vamos levar o pacote completo. Deixei meu amado e perturbado Nelson Rodrigues e sua formidável Vida como ela é de lado e me entreguei ao Segredo. Tanto o filme quanto o livro são muito parecidos. O livro é basicamente o roteiro do filme. Quem se interessar pode levar um ou outro.

A essência do livro é bem legal. O segredo que nos é contado é que seus pensamentos determinam o tipo de vida que você vai levar. O indivíduo pensa e cria o holograma desse pensamento. A freqüência desses pensamentos se dissipa pelo Universo, e este tráz de volta as coisas que ele pensou e desejou. Quem pensou coisa boa recebe coisa boa, quem pensou porcaria recebe porcaria. Gente, eu não sou especialista, essa foi a melhor maneira que encontrei pra explicar. De acordo com o livro/filme se alguém deseja muito uma Ferrari, ou um cheque de um milhão de reais, ou uma saúde perfeita, é só criar o holograma desse pensamento e deixar fluir, o Universo se encarrega do resto. Parece que a fé está para ser explicada pela física.

Mas eu me pergunto, e pessoas que sofrem de depressão? Ou que foram criadas em ambientes tão negativos que não conseguem se livrar dos padrões pessimistas? Será que serão punidas pelo Universo por não conseguirem ter pensamentos ou desejos grandiosos? Acho que os especialistas do livro diriam que sim. Isso explicaria o motivo de existir uma minoria com muito sucesso ou dinheiro e uma maioria perdida em pensamentos e sentimentos ruins. Essa minoria seria aquela que foi capaz de canalizar sua energia e receber do Universo tudo que pediu. Poderíamos entrar em discussões religiosas, mas não é o caso. Vale à pena assistir ao filme ou ler o livro. Entendo que com certa parcimônia. Ou não. Pode valer à pena entrar de cabeça na teoria do Segredo, e de repente quando menos esperar, você vai estar passeando de Ferrari pelas ruas de Mônaco na companhia do Brad Pitt. www.conhecaosegredo.com.br.
Eu tô ouvindo Fábio Jr. Podem jogar pedras que não me importo. No começo da música vinte e poucos anos ele dá uma risada igual à de um amigo meu. Amigo muito querido que tá trabalhando lá na serra e que eu pouco vejo hoje em dia. Eu já ouvi a música umas cem vezes e fiquei com muitas saudades daquele gordinho gente boa. Fiquei com saudade da época em que eu e marido procurávamos nosso primeiro apartamento em São Paulo e ele ia junto, e dava opinião. – Esse eu adorei, a gente coloca a TV ali e joga uns almofadões, vai ficar ótimo. Saudade da época em que ele buzinava na porta da casa do tio Ártico às três da madrugada e acordava a família toda com aquele sorriso de meio dia. Saudade dele pegar a minha cabeça e apertar contra o peito dele fazendo cara de paizão. Ele tá ótimo, trabalhando, apaixonado e feliz, mas o Fábio Jr. foi rir igual a ele e aí deu à maior saudade. Vou ligar pra ele.

Friday, April 20, 2007

Eu tenho escrito pouco. Muita coisa chata pra fazer, poucas idéias. Tenho andado no piloto automático, mas sempre procurando um novo tempo. Essa música do Ivan Lins era um novo tempo depois da ditadura militar. Hoje precisamos que nosso intelectuais criem os ideais de um novo tempo para a ditadura da injustiça social, do descaso, da corrupção, da violência, da falta de solidariedade.

No novo tempo, apesar dos castigos/Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos/Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer/No novo tempo, apesar dos perigos/Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta/Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver/Pra que nossa esperança seja mais que a vingança/Seja sempre um caminho que se deixa de herança/No novo tempo, apesar dos castigos/De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga/Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer/No novo tempo, apesar dos perigos/De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados/Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver/No novo tempo, apesar dos castigos/Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas/Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer/No novo tempo, apesar dos perigos/A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça

Eu, meus taxistas e eu mesma

Eu adoro andar de táxi. Acho a classe interessantíssima. Eu não consigo entrar num táxi e ficar calada. Eu sempre puxo assunto. – E essa violência, hein? – Como o trânsito está bom hoje? E dessas perguntas iniciais surgem ótimas conversas. Às vezes, eu entro em algumas roubadas, taxistas malucos, mas aí eu fico calada rezando pra chegar bem no meu destino final.

Ontem eu peguei cinco táxis. Um para ir ao trabalho, dois para voltar do trabalho, um para ir a um jantar de família e um para voltar do jantar de família. Momentos insólitos.

Na primeira corrida, eu dei uma pequena carona pra mermã pequena e fomos conversando sobre uma consulta médica. Nada demais, papinho de irmãs, cinco minutos no trajeto da minha casa a casa dela. Quando ela saltou, o taxista virou pra mim e falou. – Vocês estavam falando de médico, né? Pois é, eu tive um enfarto mês passado e vou ter que fazer transplante de coração. Queeeeeeeeee? E você fala isso nessa calma? Ele foi descrevendo todo o processo, o dia em que passou mal, o período na UTI, o fato de estar doente mesmo tendo sido do exército e ser atleta e as brincadeiras dos colegas taxistas que estão escrevendo bilhetinhos pra parentes que já partiram e pedindo pra ele entregar. Ele era alto astral e estava tranqüilo. Eu confesso que apesar de ficar bastante incomodada com esses assuntos, achei que aquela conversa estava sendo mais importante pra mim do que uma consulta com meu joelhaço. Saltei em frente ao escritório e desejei tudo de bom para ele. Próxima terça vou lembrar à Santo Antônio o caso desse taxista.

Na volta do trabalho, peguei um táxi do ponto. O taxista se recusou a fazer o caminho que eu pedi dizendo que era muito mais engarrafado, não discuti, resolvi relaxar e curtir a vista da praia de Copacabana. Esse taxista estava com vontade de conversar. Ele começou com um papo de que todo o homem brasileiro é frouxo. Ele se incluía entre os frouxos. Que eram dominados por suas mulheres e que não lutavam pelos seus direitos de cidadão. O meu lado antropóloga resolveu explorar mais o assunto. – Mas por que o senhor pensa assim? Ele falava, eu escutava. Tive a impressão que ele havia bebido ou usado algum tipo de droga quando ele começou a dirigir bem devagar pela Av. Atlântica olhando pra trás. Resolvi ficar calada até o fim da corrida, talvez assim ele ficasse atento ao trânsito. Mas ele começou a se empolgar, acendeu um cigarro (o que foi horrível), virou pra mim e falou. – Eu posso falar isso, pois a senhora é casada. Eu sou viciado na minha mulher. Ela não presta pra nada, devia ter tido ela como amante e casado com outra. Mas eu sou viciado nela. Entendeu? Eu tinha entendido muito bem e não era aquele tipo de conversa que eu queria levar com um taxista supostamente entorpecido. Pedi pra ele me deixar ali mesmo com a desculpa de que iria comprar algo. Depois peguei outro táxi até em casa.

Foram duas lições no mesmo dia. A primeira foi umalição de vida, positiva, um sujeito com um sério problema que estava otimista, trabalhando, fazendo a parte dele para que as coisas dessem certo. E a outra foi uma lição para mim.

Tuesday, April 17, 2007

Pensamentos ordinários

logo de manhã, primeira página do jornal, manchete do massacre na virgínia tech. vou ler o jornal no escritório. vou tomar café sem jornal. jornal dá indigestão. anotar a decisão, se pequeno resolver estudar fora, mandar ele pra austrália ou nova zelândia. que trânsito pra chegar em botafogo! o que será que aconteceu? tiroteio no morro da mineira. túnel fechado. um monte de gente atingida. essa gringa é corajosa de querer vir morar aqui. já hora do almoço? vou à igreja de Santo Antônio. melhor ir de táxi. o que é isso moço? não abre o vidro não! que taxista maluco! tomara que o motoqueiro só queira mesmo uma informação. todo mundo sabe onde é a candelária! que susto! segurar a bolsa firme. o padre citou São João – bem aventurado aquele que crê sem ver. ninguém acredita em mais nada, muito menos no que estamos vendo. que pena que a rua da carioca esteja tão abandonada. lindos os casarões do rio antigo. um monte de lojas fechadas. quanto emprego desperdiçado. o rio é lindo, mas está tudo muito sujo. será que o césar maia ainda mora aqui? o taxista tem uma filha mariana, uma filha só, ele queria uma família grande, mas tem vergonha de apresentar esse mundo pra outras crianças. o melhor lugar para assistir à corrida de aviões da red bull é daqui do escritório. como foi que eu só me dei conta disso agora? acho que não tenho olhado muito pela janela. que bochecha fofa! ele já está pra chegar. tem alguém lá em cima acelerando os relógios. só pode ser isso. essa bochecha me fez discordar do simpático taxista. só alguns pensamentos ordinários.

Saturday, April 14, 2007

Joelhaçoterapia

Eu comecei a fazer análise em 1998 depois de uma ultrassonografia transvaginal. Pode parecer estranho mas é verdade. Fazer o exame me deixou tão descontrolada que eu resolvi procurar ajuda médica. Conheci meu primeiro joelhaçoterapeuta através de um grande e amado amigo, padrinho do meu filho, mas um sujeito completamente maluco. O meu primeiro joelhaço não era um “freudiano” ortodoxo. Os joelhaços não devem dar opiniões na vida de seus pacientes, na verdade eles deveriam somente fomentar a reflexão. No meu caso, foram cinco anos de joelhadas nos bagos, e eu nem tenho bagos. Eu saía das consultas com tantos deveres de casa, e coisas tão complexas pra resolver, que tinha medo de voltar na semana seguinte. Mas foi um período positivo. Eu consegui controlar o meu pânico de médico a ponto de engravidar e ter meu Pequeno Príncipe. No meio da gravidez resolvi me dar alta pela primeira vez. Esse foi um processo muito doloroso para o meu joelhaço que não conseguiu lidar bem com a ruptura. Depois do nascimento do meu filho, quando ele já estava com dois anos, um evento específico me fez procurar o joelhaço novamente. A princípio eu queria uma conversa, mas a conversa se tornou um ano de joelhaçoterapia. As joelhadas desgastavam muito a nossa relação, e eu resolvi romper definitivamente com ele.

No final do ano passado dei uma nova chance à joelhaçoterapia, mas com outro terapeuta. Esse sim um “freudiano” convicto de primeira. Difícil tirar opiniões dele. Eu tenho que perguntar na lata. O que você acha disso? O que você faria no meu lugar? É curioso como eu tento vender a imagem de mulher maravilha, mas na verdade sou uma mulherzinha de nada que fica buscando apoio para todas as minhas decisões. Depois de quase dez anos de análise eu tenho certeza que evoluí muito, trabalhei meu passado, amadureci. Talvez os “problemas” que eu leve pro meu joelhaço não sejam exatamente problemas, sejam as angústias que um ser humano qualquer vive nesse mundo maluco de hoje. Ele quer que eu reflita sobra as minhas faltas. Minha avó levantou a questão que eu acho que ele gostaria de levantar. Será que ainda é preciso? Até quando é preciso? Talvez nunca, talvez a vida toda.
Passei o dia deprimida. Passei a semana deprimida. Repensando os rumos da minha vida profissional. Conversa com joelhaço não adiantou nada...sabe o que adiantou? cinco chopps no Bar Lagoa.

Wednesday, April 11, 2007

Eu tenho esquecido as minhas consultas com o meu joelhaçoterapeuta (termo carinhoso para analista que eu roubei de um outro blog). É simples assim, eu deixo ele me esperando às 7:30 hs da manhã e fico em casa dormindo o sono dos justos. Só lembro dias depois quando alguma coisa me chateia e eu me pergunto porque não falei do assunto com o joelhaço. Ontem ele me ligou pra me lembrar da consulta de hoje. Estressei. Passei a noite toda acordando, achando que tinha perdido a hora. Não perdi a hora. Compareci. Me desculpei pelas faltas. Ele me perguntou se eu já tinha pensado se existe algum motivo inconsciente para meus esquecimentos. Não sei. Fósfosol na velha.
A minha avó fez de tudo pro meu brinquedo funcionar. Ela foi lá nas Lojas Americanas e comprou pilhas novas. Mas as pilhas não funcionaram. Então amanhã ela vai lá na Califórnia comprar meus Backiardigans e umas pilhas pra esse brinquedo. Ela falou que a Califórnia fica depois de Porto de Galinhas, fica depois da Disney. Minha avó é legal.

meu pai me mandou essa foto dizendo que parecia que eu já estava treinando pra ser mãe, cuidando da mermã pequena. pai, na verdade eu devia estar esclarecendo para ela umas regras de convivência, como por exemplo, não tocar nos meus brinquedos, manter distância da minha mãe, você não é convidada pros programas de fim de semana. tudo ao pé do ouvido e com cara de santa pra ninguém desconfiar. foto do séc passado.

O tempo e o vento


E a verdade é que a gente não lembra mais como fazíamos quando não havia celular.

Vamos puxar pela memória: marcávamos uma combinação qualquer (tipo: vamos nos encontrar em tal lugar a tal hora), e depois que saiu de casa, acabou. Lembrou? As pessoas ficavam simplesmente inacessíveis na rua. Várias combinações davam errado. Muito desencontro nessa vida.
Por outro lado, o desenvolvimento das telecomunicações acabou com diversos programas legais, como por exemplo, ir ao orelhão em frente à delegacia de Rio das Ostras, esperar horas numa fila para ter notícia dos parentes que ficaram no Rio de Janeiro. Saía a família toda, nós crianças íamos brincando pelo caminho, ouvindo a conversa dos adultos, das pessoas que estavam na nossa frente na fila, depois tomávamos sorvete, passeávamos na cidade, tudo com a simples desculpa de fazer uma ou duas ligações.

O celular mudou a vida das pessoas em muitas coisas. Podemos escrever um livro só sobre a mudança que o celular operou na esfera dos relacionamentos. A começar pelo bina. (Ih, é esse cara? Nem vou atender.)

Tem outra mudança de que me dei conta. Que é o seguinte. Antes do celular, você tinha muito mais contato com a vida familiar dos seus amigos. Exemplo. Início dos anos 90, eu era adolescente e morava com a minha mãe e mermã. Assim como todos os meus amigos. Não tinha e-mail. Então tudo era combinado pelo telefone. O fixo. A gente ligava, e às vezes atendia a mãe da pessoa, às vezes o pai, ou a/o irmã/o, ou a empregada. E se fosse alguém para quem você ligasse muito, acabava estabelecendo uma relação com toda essa família. Porque às vezes era preciso deixar recados extensos e importantíssimos com quem quer que estivesse em casa (tipo: bom, se ele ligar, diga que eu não pude esperar no lugar X, mas estarei no lugar Y até tal hora, depois vou para Z). Ou se você tivesse, digamos, um ex-namorado psycho que te ligasse o tempo todo, ele pelo menos estaria exposto ao vexame de posar de psycho para todo mundo da sua casa. Eu conheço razoavelmente bem os pais e os irmãos dos meus amigos mais antigos. Hoje em dia não. Crianças têm celulares desde os oito anos, e passam o dia mandando SMS umas para as outras. Ou e-mails. Ou scraps. Ou comentários nos blogs.

Os relacionamentos -- quaisquer que sejam, amizades ou namoros -- passaram a se dar numa esfera muito mais privada (ou muito mais pública, no caso dos scraps e dos blogs, mas de qualquer forma, sem passar pela mediação da esfera doméstica, apenas pela mediação dos pares).

Hoje em dia eu praticamente só tenho o celular das pessoas. De muitos bons amigos, nem tenho o fixo. Mas vou contar para o meu filho e netos que passei por toda a escola, incluindo vestibular, sem computador (internet nem fale), e toda a faculdade sem celular. Eles vão me ouvir, claro, com a mesma mistura de simpatia, curiosidade e uma certa pena com que eu sempre ouvi meus avós (ou mesmo meus pais) dizendo que para se fazer um interurbano você chamava a telefonista e a coisa demorava uma tarde inteira pra conseguir uma linha. Ou então aquela história que a TV só tinha programação durante poucas horas, e que nos horários em que não tinha nada ficava a imagem de um índio congelada na TV.

Tudo isso é, vá lá, normal. Mas a questão é mesmo o tempo. Como essas tecnologias deixam de ser nada e passam a ser tudo em menos de dez anos.
Tenho a impressão que este post já nasceu anacrônico.

Tuesday, April 10, 2007

Meio barro, meio tijolo


Para quem ficou preocupado com meu post deprê... Eu estou bem. É que eu ando com vontade de sair sem lenço, sem documento, nada nos bolsos ou nas mãos. Talvez eu comece a fumar. Talvez eu pinte a minha cara de pasta d´água e saia por aí usando fralda super sexy. Como disse uma amiga que mora no planalto central, eu tô meio barro meio tijolo, mas vai passar.

Monday, April 9, 2007

- Nossa! Você por aqui?
- É...eu não venho muito aqui, mas hoje eu ...
- Eu achei ótimo te encontrar aqui! Estou surpresa, não achei que esse tipo de coisa te interessasse.
- É...na verdade me interessa muito.
- Você parece chateado...alguma coisa está te incomodando?
- É ele.
- Ele quem?
- Aquele que coabita o meu corpo. Aquele que não pode gostar de nada, se interessar por nada, se divertir com nada, antes de ganhar os primeiros milhões e provar ao mundo o seu valor. Ele não vai gostar de saber que eu vim aqui, que eu estou perdendo tempo com você. Ele vai odiar saber que você sabe que eu me interesso pelas mesmas coisas que você.
- E como é que você o deixa tomar conta da situação? Vira a mesa! O valor de vocês está justamente na sua sensibilidade. Conta pra ele, que tirando você, ninguém está interessado nas coisas que ele tem que provar. Ele faz vocês dois sofrerem. Volta mais vezes aqui, têm algumas coisas que eu gostaria de dividir com você.
- Vou tentar.
Eu ando sem vontade. Meu corpo está cansado. Minha mente está exausta. Sair da cama por um projeto onde não há convicção é uma luta inglória. Eu estou ficando velha para lutas inglórias. Preciso urgentemente de uma causa. De uma causa maior. Li num livro de astrologia que o dia do meu aniversário é o dia da causa maior. Meus olhos estão cansados dessa paisagem. Deserto de idéias, deserto de atitudes. Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amiga do rei e da rainha. Tenho uma forte afinidade com o bobo da corte e quase todos os súditos já ouviram falar de mim. Lá em Pasárgada eu abro a minha livraria.

Oca. Cabeça oca. Preciso fugir desse lugar, minha criatividade de esvai. Tenho que bolar um plano. Os anos passam. São três anos prometendo a fuga. Mas como abrir mão da minha vidinha burguesa? Dúvidas.
Das vantagens de ser bobo
(Clarice Lispector)

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas.
Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente.
Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera.
É uma das tristezas que o bobo não prevê.
César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?".

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil.
Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil).
Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo.
Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor.
E só o amor faz o bobo.

Wednesday, April 4, 2007

Delivery de terrorismo e barraco na livraria

Eu sou uma pessoa calma. Calma e tolerante. Extremamente tolerante. Hoje meus limites foram testados e ultrapassados. Trabalhando, muita coisa pra terminar antes do feriado. Dando explicações ao meu chefe pelo celular. Durante a ligação o celular apitava avisando que tinha uma segunda chamada. De casa. Mais propriamente do celular da minha fiel escudeira. Liguei de volta pra ela. Mermã pequena atendeu o celular da fiel escudeira. Estranho. Mermã falou. – Olha Rê, não fica preocupada, está tudo bem, nós já estamos na portaria, mas...alguém soltou um gás no seu prédio e todos tiveram que fugir de casa rapidamente, pequeno príncipe vomitou e a mamãe está com a garganta ardendo.
Fui em casa ver o que tinha acontecido e resumindo nós temos um vizinho terrorista, que ninguém sabe exatamente quem é, que resolveu jogar spray de pimenta pelos corredores do edifício.

Fiquei um pouco chateada de ter um vizinho fronteiriço e antes de voltar ao escritório resolvi passar numa livraria para comprar um livro pra minha afilhada. No caixa, um homem muito desagradável destratava as vendedoras da loja. Inflamada pelo spray de pimenta, vesti minha capa de Zorro e saí em defesa das pobres mulheres. A minha defesa foi educada, tentei apelar para o bom senso do homem dizendo que existe uma certa diferença entre exigir um bom atendimento e humilhar as pessoas. Eu nem completei a frase, ele virou pra mim e gritou. - Cala essa boca e vai fazer uma dieta SUA GORDA DEFORMADA. Gente, foi terrível. De onde esse homem tirou isso? E ele falou tão alto que todos da loja olharam pra mim. Se ele tivesse dito SUA GORDUCHA TRANSTORNADA, SUA RECHUNCHUDA ABUSADA, SUA FOFA AMALUCADA, eu nem ia ficar com tanta raiva, mas GORDA DEFORMADA. Peraê!!!! Ele ultrapassou todos os limites. O chão sumiu de baixo dos meus pés, as prateleiras se afastaram, as pessoas em volta se tornaram meras sombras distorcidas. Nunca, nenhum ser humano foi capaz de gerar tal ira dentro de mim. Fúria imensa. Xinguei o crápula de todos os nomes e sobrenomes feios que conheço. Ele também estava descontrolado e revidou. Seguranças tiveram que apartar a briga. Um barraco sem precedentes. Vivemos num mundo de loucos, e eu sou um deles.

Tuesday, April 3, 2007

Hoje eu só quero saber de fotos. Alguém ainda tem coragem de dizer que o Pequeno Príncipe parece com o pai?

I am his China Girl

China Girl - David Bowie

I could escape this feeling
With my china girl
I feel a wreck without my
Little china girl
I hear her hearts beating
Loud as thunder
Saw their stars crashing

I'm mess without my
Little china girl
Make up mornings where's my
Little china girl
I hear her heart's beating
Loud as thunder
Saw their stars crashing down

I feel a-tragic like
I'm Marlon Brando
When I look at my china girl
I could pretend that nothing really meant too much
When I look at my china girl
I stumble into town just like a sacred cow

Visions of swastikas in my head
Plans for everyoneIt's in the white of my eyes
My little china girl
You shouldn't mess with me

I'll ruin everything you are (you know)
I'll give you television
I'll give you eyes of blue
I'll give you man who want to rule the world

And when
I get excited
My little china girl says
Oh baby just you shut your mouth
She says shhhh...
Bá vem aqui pro Rio tirar umas fotos comigo? Eu queria enfeitar meu blog com uma foto dessa beleza de morena que faz aniversário hoje e me dá o privilégio da sua amizade há uns 20 anos. Inacreditável, não tenho nenhuma foto dela. Vem tirar umas fotos comigo e a gente aproveita pra comemorar!! Parabéns!!

Monday, April 2, 2007


Almoço de aniversário da Gil (ela mesma, das Panteras), minha personal animator, bola de cristal que eu consulto e joelhaçoterapeuta. Beijos pra minha amiga que ela merece.