Friday, April 20, 2007

Eu, meus taxistas e eu mesma

Eu adoro andar de táxi. Acho a classe interessantíssima. Eu não consigo entrar num táxi e ficar calada. Eu sempre puxo assunto. – E essa violência, hein? – Como o trânsito está bom hoje? E dessas perguntas iniciais surgem ótimas conversas. Às vezes, eu entro em algumas roubadas, taxistas malucos, mas aí eu fico calada rezando pra chegar bem no meu destino final.

Ontem eu peguei cinco táxis. Um para ir ao trabalho, dois para voltar do trabalho, um para ir a um jantar de família e um para voltar do jantar de família. Momentos insólitos.

Na primeira corrida, eu dei uma pequena carona pra mermã pequena e fomos conversando sobre uma consulta médica. Nada demais, papinho de irmãs, cinco minutos no trajeto da minha casa a casa dela. Quando ela saltou, o taxista virou pra mim e falou. – Vocês estavam falando de médico, né? Pois é, eu tive um enfarto mês passado e vou ter que fazer transplante de coração. Queeeeeeeeee? E você fala isso nessa calma? Ele foi descrevendo todo o processo, o dia em que passou mal, o período na UTI, o fato de estar doente mesmo tendo sido do exército e ser atleta e as brincadeiras dos colegas taxistas que estão escrevendo bilhetinhos pra parentes que já partiram e pedindo pra ele entregar. Ele era alto astral e estava tranqüilo. Eu confesso que apesar de ficar bastante incomodada com esses assuntos, achei que aquela conversa estava sendo mais importante pra mim do que uma consulta com meu joelhaço. Saltei em frente ao escritório e desejei tudo de bom para ele. Próxima terça vou lembrar à Santo Antônio o caso desse taxista.

Na volta do trabalho, peguei um táxi do ponto. O taxista se recusou a fazer o caminho que eu pedi dizendo que era muito mais engarrafado, não discuti, resolvi relaxar e curtir a vista da praia de Copacabana. Esse taxista estava com vontade de conversar. Ele começou com um papo de que todo o homem brasileiro é frouxo. Ele se incluía entre os frouxos. Que eram dominados por suas mulheres e que não lutavam pelos seus direitos de cidadão. O meu lado antropóloga resolveu explorar mais o assunto. – Mas por que o senhor pensa assim? Ele falava, eu escutava. Tive a impressão que ele havia bebido ou usado algum tipo de droga quando ele começou a dirigir bem devagar pela Av. Atlântica olhando pra trás. Resolvi ficar calada até o fim da corrida, talvez assim ele ficasse atento ao trânsito. Mas ele começou a se empolgar, acendeu um cigarro (o que foi horrível), virou pra mim e falou. – Eu posso falar isso, pois a senhora é casada. Eu sou viciado na minha mulher. Ela não presta pra nada, devia ter tido ela como amante e casado com outra. Mas eu sou viciado nela. Entendeu? Eu tinha entendido muito bem e não era aquele tipo de conversa que eu queria levar com um taxista supostamente entorpecido. Pedi pra ele me deixar ali mesmo com a desculpa de que iria comprar algo. Depois peguei outro táxi até em casa.

Foram duas lições no mesmo dia. A primeira foi umalição de vida, positiva, um sujeito com um sério problema que estava otimista, trabalhando, fazendo a parte dele para que as coisas dessem certo. E a outra foi uma lição para mim.

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