
Cena Um
Local - Vestiário de uma academia na zona sul do Rio.
Horário – hora do almoço na zona sul do Rio.
Personagens – eu e mais umas cinco médicas da zona sul do Rio.
Eu estava no lugar errado, isso é certo.
As médicas conversavam animadamente sobre implantes de mama, vulgarmente conhecidos como “colocar silicone” ou “dar uma turbinada”. E falavam das próteses, dos tamanhos, dos preços, se as melhores são as importadas ou as nacionais, se devemos optar por aquelas que valorizam o colo ou outras que são mais baixas (essa parte não dá pra explicar bem, eu tive que presenciar a explicação gestual). Elas discutiam se iam fazer a cirurgia no Copa D´Or ou no Samaritano. Comecei a achar a conversa horripilante. Mas até aí tudo bem. Vaidade é uma coisa muito pessoal, e se alguém vai ser mais ou menos feliz por ter mais ou menos peito, essa também é uma questão muito pessoal.
Finalizei minha participação na conversa, não que eu tenha falado alguma coisa, participação como ouvinte, com a seguinte frase proferida por uma das médicas.
- Querida, você não tem noção de como eu quero me turbinar, mas eu vou casar mês que vem. Eu estou sem dinheiro até pra comer. Assim que eu tiver dinheiro eu vou colocar silicone e fazer uma lipo.
O detalhe é que além de muito jovem, ela era uma vareta.
Cena Dois
Local – Mesmo vestiário da mesma academia na zona sul do Rio.
Horário – uma hora depois da hora do almoço na zona sul do Rio.
Personagens – eu e as mesmas cinco médicas da zona sul do Rio.
Eu continuava no lugar errado, muita sorte.
Não falavam mais de implantes. Falavam que odiavam o Barra D´Or, e nunca trabalhariam lá, por ele ser na Barra. Elas comentavam que tinham pena do fulano e do sicrano, pois eles trabalhavam na Barra e para elas só existia a zona sul. No máximo, notem, elas foram enfáticas, no máximo o Centro.
Uma delas – a mesma da lipo - ainda falava que bom mesmo era o Leblon, e que ela estava pagando um milhão e meio de reais por um apartamento de dois quartos naquele bairro. Segundo ela não existe outro lugar decente para morar no Rio. Quase sugeri Manhattan ou Paris, mas preferi ir ao reservado vomitar um pouquinho e tentar terminar de me vestir.
Outro dia, no mesmo vestiário, ouvi uma conversa entre duas juízas (uma delas aposentada) que falavam do caso do assassinato do ganhador da mega sena. As duas concordavam que a assassina era a esposa e também concordavam que ela tinha sido muito burra. Mas elas tinham teorias diferentes sobre como a esposa deveria ter agido. Uma achava que a esposa deveria ter dado muito açúcar para a vítima. Como ele já era diabético, morreria e ela não seria responsabilizada. A outra, menos cruel, achava que ela deveria ter aguentado mais um tempo e se separado, pois já teria direito a um bom quinhão.
Fiquei muito impressionada com tanta futilidade e crueldade. A maioria das médicas era jovem, mas ainda assim eram médicas e deveriam dedicar suas vidas a cuidar de pessoas. Deveriam fazer cirurgias em seus pacientes ou nelas somente quando necessário. Deveriam doar o mínimo do seu tempo para cuidar de pessoas carentes, aqueles pobres infelizes que não podem morar no Leblon - isso eu não sei se elas fazem, não pareceu. E as juízas, a maneira cruel como elas lidavam com o assunto era impressionante.
É... Alto nível. Estou com medo de voltar lá. Acho que vou ficar sem tomar banho depois da malhação. É, vou ficar suada mesmo.
Local - Vestiário de uma academia na zona sul do Rio.
Horário – hora do almoço na zona sul do Rio.
Personagens – eu e mais umas cinco médicas da zona sul do Rio.
Eu estava no lugar errado, isso é certo.
As médicas conversavam animadamente sobre implantes de mama, vulgarmente conhecidos como “colocar silicone” ou “dar uma turbinada”. E falavam das próteses, dos tamanhos, dos preços, se as melhores são as importadas ou as nacionais, se devemos optar por aquelas que valorizam o colo ou outras que são mais baixas (essa parte não dá pra explicar bem, eu tive que presenciar a explicação gestual). Elas discutiam se iam fazer a cirurgia no Copa D´Or ou no Samaritano. Comecei a achar a conversa horripilante. Mas até aí tudo bem. Vaidade é uma coisa muito pessoal, e se alguém vai ser mais ou menos feliz por ter mais ou menos peito, essa também é uma questão muito pessoal.
Finalizei minha participação na conversa, não que eu tenha falado alguma coisa, participação como ouvinte, com a seguinte frase proferida por uma das médicas.
- Querida, você não tem noção de como eu quero me turbinar, mas eu vou casar mês que vem. Eu estou sem dinheiro até pra comer. Assim que eu tiver dinheiro eu vou colocar silicone e fazer uma lipo.
O detalhe é que além de muito jovem, ela era uma vareta.
Cena Dois
Local – Mesmo vestiário da mesma academia na zona sul do Rio.
Horário – uma hora depois da hora do almoço na zona sul do Rio.
Personagens – eu e as mesmas cinco médicas da zona sul do Rio.
Eu continuava no lugar errado, muita sorte.
Não falavam mais de implantes. Falavam que odiavam o Barra D´Or, e nunca trabalhariam lá, por ele ser na Barra. Elas comentavam que tinham pena do fulano e do sicrano, pois eles trabalhavam na Barra e para elas só existia a zona sul. No máximo, notem, elas foram enfáticas, no máximo o Centro.
Uma delas – a mesma da lipo - ainda falava que bom mesmo era o Leblon, e que ela estava pagando um milhão e meio de reais por um apartamento de dois quartos naquele bairro. Segundo ela não existe outro lugar decente para morar no Rio. Quase sugeri Manhattan ou Paris, mas preferi ir ao reservado vomitar um pouquinho e tentar terminar de me vestir.
Outro dia, no mesmo vestiário, ouvi uma conversa entre duas juízas (uma delas aposentada) que falavam do caso do assassinato do ganhador da mega sena. As duas concordavam que a assassina era a esposa e também concordavam que ela tinha sido muito burra. Mas elas tinham teorias diferentes sobre como a esposa deveria ter agido. Uma achava que a esposa deveria ter dado muito açúcar para a vítima. Como ele já era diabético, morreria e ela não seria responsabilizada. A outra, menos cruel, achava que ela deveria ter aguentado mais um tempo e se separado, pois já teria direito a um bom quinhão.
Fiquei muito impressionada com tanta futilidade e crueldade. A maioria das médicas era jovem, mas ainda assim eram médicas e deveriam dedicar suas vidas a cuidar de pessoas. Deveriam fazer cirurgias em seus pacientes ou nelas somente quando necessário. Deveriam doar o mínimo do seu tempo para cuidar de pessoas carentes, aqueles pobres infelizes que não podem morar no Leblon - isso eu não sei se elas fazem, não pareceu. E as juízas, a maneira cruel como elas lidavam com o assunto era impressionante.
É... Alto nível. Estou com medo de voltar lá. Acho que vou ficar sem tomar banho depois da malhação. É, vou ficar suada mesmo.
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