Friday, September 7, 2007

Sobre amigas, livros, cartas e amores

Como diz meu Pequeno Príncipe, “há muitos anos atrás, quando eu tinha três anos”, ou talvez um pouco mais, eu tive uma amiga, muito amiga, daquelas amigas tipo melhor amiga. Daquelas que liga chorando da casa do ex-namorado e pede pra gente irlá buscá-la. Daquelas que liga umas cem vezes por dia pra contar que o fulaninho disse que vai estar na festa sábado e a gente precisa definir a roupa e a estratégia a ser usada. Era o início da minha fase adulta, eu estava com uns 18 anos quando a gente se conheceu, logo nos tornamos almas gêmeas, e nos afastamos quando eu comecei a namorar marido. Ela é brilhante, criada numa família de intelectuais e é uma pessoa muito intensa. Ser amiga dela aos 18 anos foi muito importante pra mim, hoje em dia, se a vida não tivesse se encarregado de nos separar, eu acho que não teria mais saúde para acompanhá-la.

Voltando ao fato dela ser uma pessoa brilhante, há uns 10 anos ela criou uma editora que só publica livros lindos, a gente nota o extremo cuidado em cada livro dela. De vez em quando ela está na mídia, ela tem a minha idade e é uma profissional muito respeitada no meio editorial. Mas nesses 10 anos que ela tem a editora, eu nunca tinha comprado um livro publicado por ela. Na semana passada, namorando as estantes de uma livraria, eu encontrei um livro com uma capa linda e um título que seduziria qualquer mulher “A maior paixão do mundo”. Quando notei a editora que o tinha publicado tive certeza que aquela era a escolha do dia. Seria uma boa oportunidade de compartilhar mais uma história com uma antiga grande amiga.

O livro é sobre outra publicação chamada “Cartas portuguesas”. Cinco cartas escritas por uma freira portuguesa a um oficial francês. Isso no ano de 1667/ 1668, época em que a maioria das mulheres nem era alfabetizada, e que o amor carnal vivido por uma freira poderia levá-la a pena de morte. A freira de nome Mariana, foi enclausurada no convento, por seu pai, aos 10 anos. Com vinte e poucos anos ela conhece e se apaixona pelo oficial francês. Eles vivem esse amor por um período, o oficial passa a freqüentar a cela dela durante as noites. O romance começa a ficar público e o oficial recebe uma carta de seu irmão pedindo que ele volte à França. Com medo, e por não sentir o mesmo amor que Mariana sentia, ele decide voltar. O teor das cartas é o desespero de Mariana pela partida do seu grande amor. Depois da quinta carta ela não mais escreveu a ele, ela viveu até os 87 anos na clausura.

As cartas foram de alguma forma encontradas e publicadas na França em 1669. Em Portugal elas foram proibidas durante 150 anos. Elas tiveram grande importância para literatura francesa. Até hoje a autoria das cartas é colocada em dúvida pela sua riqueza literária, especialistas acreditam que seria impossível uma mulher daquela época (para eles umas ignorantes) escrever cartas como aquelas.

Eu contei a história toda do livro. Não contei não. As cartas devem ser lidas. As cartas têm que ser lidas, é imperativo. O livro tem cheiro, tem gosto, o livro te agarra e não te solta. Quando a gente acaba de ler o livro, a Mariana passa a povoar os nossos pensamentos. A cidade portuguesa de Beja (onde se passa a história) passa a ser roteiro obrigatório da próxima viagem. O livro é a cara da minha amiga.

2 comments:

Bárbara Anaissi said...

belíssima inspiração. adorei (não sem uma pontinha de ciúme, imitando sua amiga idolatrada salve salve rs rs rs). posso mandar o link para a amiga do título? acho que ela vai gostar. bjs

Anonymous said...

Amiga grande amiga,
nossa amiga Bá mandou o link do seu blog. Estou aqui com os olhos cheios d´água, lembrando da nossa vida, da nossa amizade, emocionada com suas palavras, tão lindas palavras. Fico tão feliz de vc ter comprado o livro e entendido por que eu escolhi publicá-lo. Eu digo aqui para o povo que trabalha comigo que em cada letra impressa nos livros da Casa da Palavra tem impresso também meu amor pelos livros, e você, menina linda, leu nas minhas entrelinhas.
Beijo imenso, um abraço apertado (que espero em breve dar pessoalmente) e todo amor que houver nesta vida, Martha