Tem uma história da minha infância, que eu particularmente não vejo muita graça, mas que marido adora. Resolvi contar aqui, assim sempre que ele quiser pode ler e eu não preciso contar novamente.
Venho de uma família típica da classe média carioca, década de 70/80. Morávamos, eu, minha mãe e minha irmã mais nova, com meus avós em um pequeno apartamento de 2 quartos. No prédio, eram 4 apartamentos por andar e nós tínhamos uma excelente relação com a família que vivia em frente ao nosso apartamento. Apesar de já termos nos mudado há anos, somos até hoje muito amigos.
Minha avó e a senhora do apartamento em frente, que aqui chamarei de vovó Zelda, se visitavam quase diariamente para um cafezinho com bolo. Meu avô teve um problema de saúde que o prendeu em uma cama durante os últimos 11 anos de sua vida. Como ele morreu quando eu tinha 15 anos, eu não tenho recordações dele andando. Isso não impediu que meu avô fosse uma das figuras mais importantes da minha vida. Essa doença que deixou meu avô sem andar, também fez com que ele sentisse dores no corpo, que eram amenizadas com alguns remédios e com muitos amor de suas 4 mulheres.
Algumas vezes durante os lanches de minha avó e vovó Zelda, esta que era da igreja Messianica se oferecia para “ministrar Jorei” no meu avô (aqui entre aspas porque não sei se é realmente assim que se fala, sei que era assim que se falava na minha casa), para aliviar suas dores. As mulheres então iam para o quarto dele, onde vovó Zelda levantava sua mãozinha de fada (fada mesmo, ela fez os doces mais gostosos que provei em minha vida) e “ministrava Jorei”.
Eu, hoje, com 33 anos e sem conhecer nada da igreja Messiânica, imagino que isso fosse uma forma de emanar energias positivas, vibrações boas, que aliviariam qualquer sensação ruim do meu avô. O fato é que enquanto vovó Zelda “ministrava Jorei”, todos deveriam ficar em silêncio e de certa forma concentrados. Mas isso era impossível para minha avó, a mulher mais animada, falante e engraçada que eu já conheci. Minha avó falava o tempo todo, sobre os preços dos produtos nos supermercados, a novela das oito, assuntos em geral. E eu, com meus 10 anos, rondava por ali, ouvindo, achando aquilo tudo muito legal. Algumas vezes elas conversavam animadamente sobre qualquer coisa e eu tentava dar minha opinião. Assim que abria a boca era prontamente repreendida – Psiu, Renata silêncio, respeita que vovó Zelda está “ministrando Jorei” em seu avô. Só eu não podia falar.
Depois que contei isso para marido, sempre que ele acha que eu estou chateando e falando demais, ele repete - Psiu, Renata silêncio, respeita que vovó Zelda está “ministrando Jorei”.
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