Thursday, February 1, 2007

A casa assombrada dos medos aterrorizantes


Ontem à noite meu pequeno príncipe convidou o pai dele e a mim para o teatro. O teatro era no quarto dele, os personagens eram os bonecos dele, mas o mais interessante era o nome da peça ( que ele inventou) – A Casa Assombrada dos Medos Aterrorizantes.

Ele entrou na fase dos medos. Tem medo de escuro, medo de ficar sozinho na sala. Medo das histórias para dormir que o pai dele conta. Ele agora sempre me pergunta – Mamãe tem certeza que se você sair do meu quarto não vai aparecer um monstro? Eu acho graça e falo que não. Eu acho muita graça do medinho dele.

Os amigos que estão lendo esse post sabem o quanto eu tenho medo de médico. Nos últimos tempos tenho expandido meu medo para todo mundo que se veste de branco, dentistas, enfermeiros, secretárias de consultórios. Mais um tempinho e eu vou ficar com medo de babá. Tem muita gente que acha graça disso. Eu tenho uma amiga que faz check up todos os anos (orientação da empresa em que ela trabalha), e sempre na véspera ela passa o dia rindo sozinha, pensando em como eu estaria nervosa se estivesse no lugar dela.

Essa mesma amiga tem medo de pombo. Como alguém que tem medo de pombo, pode achar graça no fato de outra pessoa ter medo de médico? Uma vez ela atravessou a Av. Presidente Vargas numa correria entre os carros, porque tinham alguns pombos (ela diria milhares) na calçada em que estava andando. Eu tenho um colega no trabalho que tem medo de elevador cheio. Não é de elevador. É de elevador cheio. Não sei se é claustrofobia, ou se ele tem medo de passarem a mão na bunda dele. Ele deixa todo mundo passar na frente dele para ir perto da porta. Se o elevador ficar mais cheio do que ele pode suportar, ele sai e espera o próximo. Como a gente trabalha em um prédio movimentado, às vezes ele espera uns quatro elevadores até subir um mais vazio. Eu acho graça disso tudo.

Minha mãe e minha irmã tem medo de avião. Minha mãe quando tem que viajar de avião fica sem falar com ninguém. Um mau humor de matar. Eu tenho uma tia que tem medo de barata. Muito medo mesmo. Ela, e o marido também. Uma vez eles viajaram Rio/ Rio das Ostras e quando chegaram lá tinha uma barata no quarto deles. Nenhum dos dois teve coragem de matá-la e não quiseram conviver com ela. Voltaram para o Rio na mesma hora. Eu acho graça do medo de avião da minha mãe e da minha irmã. Eu acho muita graça do medo de barata da minha tia.

Eu já ouvi falar de um sujeito que tinha pavor de compromisso. E não era compromisso do tipo se comprometer com alguém. Esse medo praticamente todos os homens têm. Era de compromisso tipo – Hoje eu tenho uma reunião às tantas horas e por isso estou apavorado. Se eu me lembro bem, o medo dele era de se atrasar para o compromisso. Ele teve até que parar de trabalhar, pois a cada reunião que era marcada, quando ia chegando a hora ele ia ficando apavorado, suava muito e não conseguia sair do banheiro. E acho graça do medo dele, mas não devia, ele está doente, e é uma doença que o impede de aproveitar a vida.

Eu não conheço ninguém que não tenha medo de nada. Eu conheço um monte de gente bem mais corajosa do que eu. Todo mundo acha muita graça dos medos dos outros, mas não acha a menor graças dos seus. Eu li um texto budista que dizia que nós devemos encarar os nossos medos e acolhê-los. Colocá-los no colo e niná-los como se fossem nossos filhos. Eu não entendi muito bem como fazer isso, mas vou me aprofundar, achei interessante.

Todos com seus medos, declarados ou escondidos. Fazem parte da história de cada um. Acho que se relacionam com as experiências que tivemos na infância, com a nossa força interna. Os medos são importantes, eles protegem a gente de muita coisa (disse meu analista). Mas eles viram doença quando impedem seus "portadores" de fazerem certas coisas (isso também foi meu analista que disse, e aí as vezes tem que tomar remédio). Acho que eu falei isso tudo porque amanhã eu vou ao médico. Mas e você, tem medo de que?

1 comment:

Anonymous said...

eu tenho medo de pombo, e além desse, tenho um monte de outros medos mais fortes que este...mas nao tenho medo de ter medo. O medo é um eterno desafio que te faz lutar com algo que só pode estar na tua cabeça, pois se assim não fosse, todos nós teríamos os mesmos medos. E justamente por isso o medo é salutar (guardado as proporçoes), por que te faz todo dia pensar uma forma de vencê-lo, e dessa forma seguir vivendo.